domingo, 11 de novembro de 2012

A Laranja Lima deixou por uns tempos este espacinho, e começou recentemente um novo blogue. Para quem a quiser seguir e continuar a ler, aqui fica : http://largaomedoevive.blogspot.pt/

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Poesia ao Luar

Esta noite fui poeta

E consegui encher a folha branca

Com as cores das palavras

E inundar o ar com a música das frases.


 

Fui poeta, sim. Poeta.

Despejei para a temida folha branca

Tudo o que sou, que nunca foi visto.

Inundei a folha de gritos desesperados.


 

 

Gritei toda a minha alma.

E no entanto, apenas se ouvem os grilos lá fora

Então quem sou eu? O que havia de mim

É agora preto no branco, medido. Desmedido.


 


 

Nunca soube rimar

Por isso só rimo um pouco

Se por acaso houver luar.


 


 

E não há métrica dentro de mim.

Apenas quem eu sou, quem não fui

Quem não sou, e quem não vou ser

Porque não posso.


 


 

Porque não sou o Eu que me chamam

Tenho tantos Eus dentro de mim

A amarem-se e a debaterem-se num turbilhão

Loucos, pávidos, vivos, mortos.


 


 


Então quem sou eu?

Sou Poeta.


 



terça-feira, 27 de março de 2012

O doce cemitério das nossas histórias

Hoje foi um bom dia. Toquei num concerto com uns colegas e no final ofereceram-nos uma flor a cada um. A minha é de corola amarela e vem abraçada num raminho de espigas apertadas por um lacinho igualmente amarelado. Fiquei feliz por recebê-la. Receber flores é bom. Gosto de ter sempre uma no meu quarto. Quando cheguei a casa fui direita à jarra arredondada que tenho em cima da cómoda, para a por lá a secar, quando reparei (e nem vais acreditar) que ainda lá estava a rosa branca que uma vez me ofereceste quando jantámos os dois sozinhos numa noite qualquer de verão, naqueles tempos em que me deitava a pensar em ti. Agora lembro-me bem, ofereceste-me uma rosa branca nesse dia, um bocado ao calhas. As rosas brancas são as minhas preferidas, mas tu não sabias, acho que isso nunca to disse. Nem nunca to vou dizer porque morreste para mim e eu morri para ti, e há agora algures nas terras do passado um cemitério onde as nossas histórias estão enterradas, também já mortas. É para lá que a rosa branca vai a caminho de certeza, pois tive de a deitar fora. Como não sabia para onde se mandam as flores velhas, pu-la no lixo, no meio das cascas de fruta e dos bocados de cotão apanhados atrás do sofá. Sim, foi para aí que foi a última recordação de Nós. Mas penso que essa não é uma razão para que fiques ofendido, estou certa? Agora vivemos em mundos diferentes, paralelos. Eu não conheço o teu, tu não conheces o meu. Mas ambos merecemos a felicidade. Felicidade essa, que começo a perceber que não advém de uma vida onde só acontecem coisas boas, mas sim das mentes das pessoas que conseguem lidar com a tristeza, coisa que tu sem saber me ensinaste muito bem a fazer. E agora, que poucas horas faltam para o amanhacer, olho bem e apercebo-me que a berrante flor que tenho como novidade no meu quarto é bem mais bonita e bem mais parecida comigo, do que a palidez da sua antecessora (outrora) rosa!



sábado, 11 de fevereiro de 2012

Perguntas-me pelo título? Não sei...

Gosto de viagens de autocarro. Nunca conheci ninguém que dissesse o mesmo. Eu gosto. Gosto de me enfiar na traquitana de manhãzinha, sentar-me e ir por ali fora. Ás vezes até me esqueço do meu destino, e quando o alcanço fico triste porque a viagem acabou. Não me importo com a “muita gente”, nem com o “pouco espaço”.  Adoro todo aquele balançar e do som das peças já todas tão velhas a desconjuntarem-se e a abanar a cada buraco na estrada.  E da paisagem, mesmo que seja a mais vulgar de todas. Gosto de a contemplar com a cabeça encostada às cortinas em que já toda a gente mexeu  .Gosto do entrar e sair dos rostos, uns que vejo todos os dias, outros que não voltarei a ver.  Eu gosto de tudo aquilo. O meu maior sonho era ir numa viagem de autocarro pelo mundo fora, enquanto houvesse terra. Ir no meio de pessoas que não conhecesse, no meio de paisagens verde-infinito, ao sol. Passar por cidades, por cafés, por casas de betão inacabadas, pelos parques infantis, pela vida toda. Depois entrar num bosque, chegar a uma estrada à beira-rio, e continuar a viagem. Sem paragens, ou então só com as necessárias, para poderem sair as pessoas velhas, e entrarem as novas. Mas só são velhas as que quiserem sair, e só são novas as que querem entrar. Eu fico.