terça-feira, 27 de março de 2012

O doce cemitério das nossas histórias

Hoje foi um bom dia. Toquei num concerto com uns colegas e no final ofereceram-nos uma flor a cada um. A minha é de corola amarela e vem abraçada num raminho de espigas apertadas por um lacinho igualmente amarelado. Fiquei feliz por recebê-la. Receber flores é bom. Gosto de ter sempre uma no meu quarto. Quando cheguei a casa fui direita à jarra arredondada que tenho em cima da cómoda, para a por lá a secar, quando reparei (e nem vais acreditar) que ainda lá estava a rosa branca que uma vez me ofereceste quando jantámos os dois sozinhos numa noite qualquer de verão, naqueles tempos em que me deitava a pensar em ti. Agora lembro-me bem, ofereceste-me uma rosa branca nesse dia, um bocado ao calhas. As rosas brancas são as minhas preferidas, mas tu não sabias, acho que isso nunca to disse. Nem nunca to vou dizer porque morreste para mim e eu morri para ti, e há agora algures nas terras do passado um cemitério onde as nossas histórias estão enterradas, também já mortas. É para lá que a rosa branca vai a caminho de certeza, pois tive de a deitar fora. Como não sabia para onde se mandam as flores velhas, pu-la no lixo, no meio das cascas de fruta e dos bocados de cotão apanhados atrás do sofá. Sim, foi para aí que foi a última recordação de Nós. Mas penso que essa não é uma razão para que fiques ofendido, estou certa? Agora vivemos em mundos diferentes, paralelos. Eu não conheço o teu, tu não conheces o meu. Mas ambos merecemos a felicidade. Felicidade essa, que começo a perceber que não advém de uma vida onde só acontecem coisas boas, mas sim das mentes das pessoas que conseguem lidar com a tristeza, coisa que tu sem saber me ensinaste muito bem a fazer. E agora, que poucas horas faltam para o amanhacer, olho bem e apercebo-me que a berrante flor que tenho como novidade no meu quarto é bem mais bonita e bem mais parecida comigo, do que a palidez da sua antecessora (outrora) rosa!



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